Materia da VOGUE Brasil sobre a exposição Arte Delas, na Marina da Gloria
Em tempos sombrios para a cultura brasileira, nos quais a omissão de cuidados com a preservação do patrimônio nacional está mais em pauta que nunca, o curador Marc Pottier acredita que quem pode salvar este cenário são os próprios artistas. A fim de sustentar tal posição, o francês concebeu a exposição A Arte Delas, que entra em cartaz no dia 24 deste mês, na Marina da Glória.
A mostra é o ponto central da terceira edição do Marina Monumental, evento que acontece anualmente para ocupar os espaços ao ar livre da icônica Marina (não usados durante os outros meses) com obras de grande porte. Os trabalhos são todos inéditos e, na sua maior parte, site-specific – ou seja, criados especialmente para essa exposição e para a locação.
Este ano, o curador lança olhar exclusivamente à obra feminina. Amante assumido do Brasil desde 1992, quando veio pela primeira vez ao Rio, Pottier afirma: “todos os dias descubro novos talentos femininos no País”. O curador, que sempre incluiu muitas mulheres em todas as suas exposições, foi o nome por trás de Elles: Mulheres Artistas, mostra vinda da coleção do Centre Georges Pompidou em Paris, que ocupou, em 2013, o Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo. Nessa época, se aprofundou sobre a força feminina nas artes plásticas o bastante para hoje, enfim, fazer uma curadoria só de mulheres com a propriedade exigida. Ele exalta tambémo quanto o País é terra fértil para elas, “e ainda estamos no Rio de Janeiro, lugar onde sempre tivemos personalidades fortes como Maria Martins, Lygia Clark e Lygia Pape.”
Para mostrar a infinidade de temas explorados pelas mulheres em seus trabalhos, Pottier procurou mais de 40 brasileiras. Entre elas, destaca-se Ananda Nahu – baiana de Juazeiro e dona de uma obra supercolorida e vibrante, a grafiteira preparou especialmente para a exposição um painel que fala da mulher negra no Brasil. “Estou fazendo descobertas surpreendentes durante este processo, inclusive de muitas artistas jovens que não conhecia”, diz.
A carioca Anna Paola Protasio, famosa por se apropriar de objetos do cotidiano em seus trabalhos, preparou uma instalação em que vai explorar o fundo do mar; a carioca Claudia Jaguaribe, cuja produção extrapola os limites entre as artes plásticas e a fotografia, homenageia a Baía de Guanabara; a escultora paulistana Denise Milan, que usa a pedra como eixo criativo, fala sobre a energia do objeto; Maria Laet, outra carioca da lista e um dos destaques da Bienal de São Paulo deste ano, criou uma sala de meditação que convida o público a apreciar a paisagem. Com uma instalação para a contemplação e conexão com pedras, a sérvia Marina Abramovic é a única de origem não brasileira a participar da mostra.
Aproveite a ida à Marina para explorar também o leque democrático de opções gastronômicas ali instaladas, como as carnes do argentino Corrientes 348; a comida oriental do Soho, hotspot japonês original de Salvador; o contemporâneo Urukum;e o italiano Bota, primeira casa do chef Joca Mesquita, que mistura elementos brasileiros nos pratos como o tiramisu feito com biscoito de fubá e paçoca. O mais novo a abrir as portas é o Deck Marina, com um cardápio bem brasileiro e drinques regionais. Para brindar a arte feminina no Brasil! Marina da Glória: Avenida Infante Dom Henrique, s/nº, Rio de Janeiro. De 24 de novembro a 6 de janeiro.